No dia 16 de julho do ano de 1756, nascia, em Salvador, José da Silva Lisboa, um homem que iria mudar a história de nosso país, e que viria a tornar-se, no ano de 1826, o Visconde de Cairu. Considerado o pai do conservadorismo brasileiro, Lisboa não seria um simples cidadão brasileiro ou intelectual, mas um gênio e estadista admirável, ao ponto de nunca mais ser esquecido ou perdido nas brumas da história brasileira.
Salvador no ano de 1756.
José da Silva Lisboa viveu seus 18 anos iniciais em Salvador, que naquela época era chamada de Capitania da Bahia. Era filho de um arquiteto português chamado Henrique da Silva Lisboa, e a sua mãe chamava-se Helena Nunes de Jesus. Lisboa, que apreciava muito o hábito de estudar, passou seus oito anos iniciais em um preparatório da Bahia estudando filosofia, música e piano. Já no ano de 1774, Lisboa foi estudar na Universidade de Coimbra, pois infelizmente o governo português não permitia a existência de universidades na colônia, de modo que os acadêmicos eram obrigados a realizarem seus estudos em Portugal. Ele se formou em cursos jurídicos e filosóficos no ano de 1779, mas, como bem disse, Lisboa amava os estudos, e por isso foi nomeado substituto das cadeiras de grego e de hebraico do Colégio das Artes de Coimbra.
José Da Silva Lisboa
Quando retornou de Portugal, foi nomeado professor de Filosofia Nacional e Moral na cidade de Salvador cuja cadeira regeu por 20 anos, bem como o curso de língua grega, que ali ele o criou, por cinco anos. Com seus inúmeros méritos, e pelo destaque que recebeu na capital baiana, acabou sendo nomeado deputado da Mesa de Inspeção da Agricultura e Comércio da Bahia, e mais tarde veio a tornar-se responsável pela boa aplicação das políticas econômicas de Portugal na colônia da Bahia.
A Família Real portuguesa chega ao Brasil.
Relembrando um pouco o contexto histórico da Europa em 1808, ela estava tomada por inúmeras guerras, mortes e destruição de reinos pelo temido e famigerado Napoleão Bonaparte. Com o anúncio, em Portugal, de que as tropas napoleônicas estavam chegando para derrubar o Reino de D. João VI, ele decide juntar todos os seus pertences e rumar para o Brasil, que naquela época era uma simples colônia. Essa odisseia teve início no dia 29 de novembro do ano anterior e só iria terminar em 22 de janeiro de 1808, na costa da Bahia.
Como Lisboa era deputado, ele teve que participar da grande solenidade de desembarque da comitiva real, que só aconteceu no dia 24, às cinco horas da tarde. E foi nesse dia que Lisboa entrou para a história como sendo o grande influenciador de um dos primeiros e monumentais feitos, que foi a elaboração da carta-régia de 28 de janeiro, a qual iria abrir os portos às nações amigas.
Com os ventos de mudança trazidos pela corte lusitana ao Brasil, que naquele momento já era considerado um Império, cria-se na capital do Brasil, Rio de Janeiro na época, aulas de economia política com o intuito de formar novos funcionários extremamente hábeis paras as inúmeras atividades comerciais e mercantis, visto que o Brasil já não era mais uma colônia esquecida. Como Lisboa mostrou um trabalho formidável na elaboração da carta-régia, e por ser uma figura de destaque na corte, ele foi indicado para ser o professor dessas aulas, considerando sua inteligência salomônica e seu grande conhecimento político da época.
Câmara dos Deputados.
A notoriedade de Lisboa não parou por aí, e sua filosofia de vida era ter prudência na incansável busca pelo ideal do “justo meio entre os excessos”, como costumava proferir. Como Lisboa estava à par dos assuntos temáticos dos grandes intelectuais de sua época, ele sabia muito bem que o Anarquismo Social poderia arruinar fatalmente o Brasil. Por saber dessas e outras coisas, ele lutou para a manutenção da unidade do Império brasileiro, e nunca cessou de combater os inúmeros deputados liberais, condenando-os de “demagogos”, principalmente aqueles liberais que tinham simpatia das ideias republicanas e que apreciavam o 1789.
Silva Lisboa foi um deputado de destaque do Partido Restaurador ou Caramuru, como também era chamado. Defendendo sempre o legalismo, a centralização do poder na capital fluminense, e o retorno do imperador D. Pedro I, Lisboa não ficou somente defendendo o que achava certo na Câmara dos Deputados, mas exerceu intensa atividade jornalística, que o levou a publicar sua principal obra, intitulada História dos Principais Sucessos Políticos do Império do Brasil (1825-1829).
Já no ano de 1825, foi agraciado com o título de Barão de Cairu, e, no ano de 1826, com o de Visconde de Cairu. Ao longo dos seus 79 anos, Lisboa escreveu inúmeras obras inéditas, brilhantes, instigantes, e claro, todas inesquecíveis. Suas obras são: Princípios de Direito Mercantil (1798), primeira obra no Brasil que trata sobre economia política e na qual fez uma defesa aberta do liberalismo econômico; Princípios de economia política (1804), que Lisboa abre uma intensa defesa ao livre comércio e uma crítica virulenta aos monopólios; Observações Sobre a Franqueza da Indústria e Estabelecimento de Fábricas no Brasil (1810); Extratos das Obras Políticas e Econômicas de Edmund Burke, a primeiro autor no Brasil a difundir e comentar o pensamento do pai fundador do conservadorismo. E, por fim, em 1826 Lisboa escreve: História dos Principais Sucessos Políticos do Império do Brasil, obra encomendada pelo próprio D. Pedro I.
Infelizmente, como tudo na vida tem um tempo, José da Silva Lisboa faleceu no dia 20 de agosto de 1835 no Rio de Janeiro. Porém, é importante frisar, ele faleceu apenas fisicamente, pois suas ideias, feitos, lutas e obras, bem como seu exemplo de coragem e humildade estão mais vivos do que nunca.
Por: Salomão Campina