Bertrand de Got, Papa Clemente V.
Nasceu em 1264, em Villandraut, e faleceu em 20 de abril de 1314, em Roquemaure. Foi o 195º Cardeal de Roma, era o quarto filho de Béraud de Got, senhor de Villandraut e Uzeste, e de Ida de Blanquefort. A Gasconha, local onde se localizava o território de seu pai, era dominada pelos ingleses, logo Béraud era vassalo de Eduardo I, rei da Inglaterra. Bertrand quando jovem estudava na mansão de sua família até que saiu de casa para Agen, onde seu tio era bispo, e aos 16 anos esteve em Orléans onde cursara por três anos o curso de direito, na Faculdade de Ciências Jurídicas.
Então com 19 anos de idade conseguiu visibilidade perante o rei Eduardo I devido a ser um jovem forte e esperto para sua idade, o dom diplomático de sua família e também aos seus conhecimentos de ciência jurídica. Aos 20 vai para a Bolonha, na Itália, para concluir seu curso. Vindo até a estudar em Roma, consegue, devido à influência de seu irmão, Béraud de Got (mesmo nome do pai), até então arcebispo de Lyon, a ser apresentado ao Papa Bonifácio VIII. Em um tempo muito curto teve uma ascensão muito grande. Aos 23 anos se torna cânone da igreja de Santo André em Bordeaux, vigário geral do Arcebispo de Lyon e depois capelão papal. Aos 25 é nomeado bispo de Comminges, e por fim, em 1299, aos 35 anos é nomeado arcebispo de Bordeaux.
Após a morte de Bento XI, sucessor de Bonifácio VIII, o Colégio de Cardeais se reuniu em Perúgia, na Itália e em junho de 1305 Bertrand de Got é eleito papa. Dos cardeais, dez dos quinze votaram em Bertrand. Houve uma evidente influência do rei francês na decisão dos cardeais. Apesar da história apresentada por Giovanni Villani e Agnaldo de Tura, onde teria ocorrido um encontro entre Bertrand e Felipe quando de Got era ainda arcebispo de Bordeaux ser pouco provável, não é impossível que tenha ocorrido algum tipo de entendimento mútuo entre os dois. O então Arcebispo de Bordeaux não foi escolhido por causa de alguma característica positiva, carisma ou fé, mas sim por estar fora da disputa entre as famílias Colonna e Orsini, inimigas históricas e muito influentes dentro da Igreja. Suas qualidades eram bastante duvidosas, relatos indicam que Bertrand era negligente, arrogante, corruptível, além de ser ganancioso. Adotando o nome de Clemente V foi coroado no dia 14 de novembro de 1305, na presença de Felipe IV e do rei Eduardo I, em Lyon.
Durante uma época de seu papado (1305-1309), Clemente residiu em vários locais, Bordeaux, Poitiers e Tolousse, por fim tomando como nova sede do papado Avignon. Dando início ao chamado Cativeiro de Avignon (1309-1377). Era uma papa conciliador, foi mediador nas disputas entre Eduardo da Inglaterra e Felipe da França, pois queria que o rei francês liderasse uma cruzada e precisava do apoio do rei inglês. Em cinco anos de papado, nomeou uma grande quantidade de cardeais franceses. Buscando a tomada da Cruz por Felipe, o Belo, Clemente revogou todas as Bulas Papais que haviam contra a família real francesa. O rei francês pressionava o papa para que fosse aberto um inquérito sobre Bonifácio VIII, era desejo do monarca que o antigo papa fosse considerado herege, um padre imoral etc. Em 13 de setembro de 1309 foi aberto o processo contra Bonifácio. Piers Paul Read em “Os Templários” disse: “As notícias do julgamento escandalizaram a opinião pública e confirmaram a impressão de que Clemente V era um fantoche nas mãos de Felipe IV”. Porém, o próprio papa defendeu a memória de Bonifácio perante os advogados do rei. Graças aos seus conhecimentos em direito conseguiu protelar o processo.
Para Felipe seria necessário que as ordens militares, o Templo e o Hospital, existentes se fundissem. O único homem a se opor a idéia do monarca foi Jacques DeMolay que em resposta a uma solicitação de Clemente V, elaborou um memorando expondo sua opinião. O Papa convocou os grão-mestres do Templo e do Hospital para conferenciarem com ele em Poitiers em novembro de 1306. Durante sua estadia em Poitiers, DeMolay falou de certas acusações contra o Templo e pediu que uma investigação fosse feita. Clemente instituiu um processo. Em 13 de outubro de 1307 os Cavaleiros Templários são presos por Felipe, o Belo. O Papa não havia sido consultado e enviou a seguinte repreensão a Felipe:
“Vós, nosso querido filho (...) violastes, em nossa ausência, todas as regras e deitastes a mão a pessoas e propriedades dos templários. Vós também os aprisionastes e, o que nos entristece ainda mais, não os tratastes com a devida clemência (...) e acrescentastes ao desconsolo do encarceramento ainda outra aflição. Vós deitastes a mão a pessoas e propriedades que estão sob a proteção direta da Igreja Romana
(...). Vosso impetuoso ato é visto por todos, e de forma correta, como um ato de desrespeito para conosco e a Igreja Romana.”
Clemente não refutou as acusações, mas aquela outra “aflição” que ele censura Felipe por acrescentar ao encarceramento era a tortura. Em 22 de novembro de 1307 Clemente enviou uma carta a todos os reis e príncipes pedindo que não abrigassem nenhum templário. Enviou então três cardeais para Paris, onde Jacques DeMolay revogou sua confissão e mostrou as marcas das torturas sofridas. Quando Felipe soube do acontecido, escreveu ao Santo Padre ameaçando de acusá-lo dos mesmos pecados. Mas o Papa se manteve calmo e em fevereiro de 1308 suspendeu o processo contra os Templários. Por fim Clemente convocou um concílio em Vienne em 1310 para se discutir a situação dos templários. Havia acontecido um episódio antes do concílio em Vienne. Foi que, ainda em Poitiers o Papa Clemente V assistiu a confissão de 72 templários (escolhidos a dedo por Guilherme de Nogaret). Tal fato, juntamente com os propagandistas capetíngeos que foram responsáveis por difamar os Templários, fez com que o Santo Padre mudasse de posição. No Concílio o Papa instaura, forçado por Felipe, um processo contra Bonifácio. Porém consegue um acordo. Felipe aceitaria a decisão tomada pelo Santo Padre desde que o mesmo reconhecesse que o rei e seus serviçais haviam agido de boa fé em Anagni.
Foi uma figura ambígua, ora trabalhando em prol dos Cavaleiros Templários, ora em prol de Felipe da França. Foi fundamental para o crescimento da Igreja, pois levou a fundação na Europa de várias cátedras de línguas asiáticas, fundou a Universidade de Oxford e pôs fim à antiga dissidência entre a Ordem franciscana e os espirituais. Também foi vítima da maldição de Jacques DeMolay, que o amaldiçoou na data de sua morte. Morreu em Roquemaure, menos de um mês após a morte do último grão-mestre, vítima de uma doença que o acompanhou por toda sua vida, a gastropatia endêmica.